O que é a política hoje?

Auteurs

  • Sidnei Ferreira de Vares UNIFAI - Centro Universitário Assunção

DOI :

https://doi.org/10.32459/revistalumen.v7i13.210

Résumé

A breve e direta questão que dá título à essa exposição oculta a complexidade que o assunto encerra. Afinal, o termo “política”, como todos os demais termos, dispõe de historicidade e, nesse sentido, está aberto a mudanças e transformações. Ao nos colocarmos uma questão como essa, “O que é política hoje?”, já estamos estabelecendo um recorte temporal e espacialmente cirúrgico, à medida que pensá-la no contexto do mundo atual não é o mesmo que pensá-la em outro contexto. Todavia, como pensar a política hoje se não recorrermos à história com vistas a apreender as transformações pelas quais o referido termo passou? Avinha-se, portanto, um problema fundamental: pensar a política hoje, por mais necessário e urgente, não dispensa, em hipótese alguma, o olhar para trás, no sentido da comparação histórica, nem o olhar para frente, no sentido de projetar, a partir dessas mesmas comparações, o que ela pode vir-a-ser. Destarte, o “hoje” atinente à pergunta-título, que remete ao tempo e ao espaço presentes, só faz sentido em relação ao passado e ao futuro, ainda que, nesse último caso, nada esteja definido ou dado, nem mesmo enquanto expectativa. Decerto, alguém poderia objetar, a partir do que fora exposto, que não faz sentido projetar o que a política será, pois “o que passou passou”, “o que é é” e “o que deverá ser” não pode ser definido de antemão. A esse respeito, cabe-nos uma petitio principii: se “o que passou passou”, se “o que é é”, isso absolutamente significa que o “vir-a-ser” seja tão somente o resultado lógico e inexorável desse processo. Afinal, parafraseando Marx, os mortos falam aos vivos, e os vivos de hoje serão os mortos de amanhã (como na frase lapidar: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”), por isso se nada for feito agora, só restará a presentificação do passado e, por suposto, do futuro. Decerto, precisamos conhecer bem o passado se quisermos entender a política de nosso tempo presente, mas disso não se depreende que não devamos lutar por um futuro diferente visando romper com o que nos tornamos. A realpolitik jamais represará a dimensão utópica do humano, que, mais do que mero capricho ingênuo, revela-se um imperativo existencial. Faço esse alerta, pois hoje, mais do que no passado, somos imputados, por diversos motivos, à essa presentificação paralisante. É esse o ponto que se pretende explorar nessa intervenção. Para tanto, dividirei minha explanação em três momentos distintos. No primeiro momento, pretendo situar os presentes sobre as origens da política, bem como sobre os seus fundamentos e as características constitutivas de seu exercício. No segundo momento, viso ressaltar os traços da política hoje, isto é, num mundo majoritariamente capitalista e, sobremaneira, interligado, seja por meio das relações econômicas atinentes à lógica do mercado global, seja por meio das novas tecnologias, recentemente responsáveis por engendrar redes e plataformas digitais, cujo resultado foi destruir certas barreiras físicas e culturais, outrora consideradas intransponíveis, para assim integrar ou alocar em seus interiores parcelas diversas da população mundial. Isso nos permitirá comparar esses dois momentos, respectivamente correspondentes ao passado e ao presente, e apontar as continuidades e as descontinuidades desse processo. Por fim, no terceiro momento, pretendo especular, não sem uma dose generosa de utopia, sobre as possibilidades que se nos apresentam. Esclareço, desde já, que essas especulações, embora balizadas por elementos e sinais concretos, manifestos no tempo presente, não necessariamente nos permite cravar com exatidão o que o futuro nos reserva, mas apenas abrem espaço, diante da petrificação dos ponteiros históricos, para especular sobre o que ainda está por vir. Não se trata, portanto, de um previsionismo etílico de mesa de bar ou de um exercício de clarividência, mas de uma projeção, talvez permeada por certo desejo incontido e, indubitavelmente, pessoal (pois, aceitemos ou não, somos seres desejantes) de experenciar um mundo melhor do que aquele que herdamos.

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Publiée

2023-03-04

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